“COMO DOIS E DOIS SÃO CINCO”: A DITADURA MILITAR EM QUESTÃO
Ao tomar como ponto de partida as contribuições de Mikhail Bakhtin, eu me proponho, neste artigo, incursionar por um estudo de caso de dialogismo aplicado à música popular. Primeiramente, examino duas composições nas quais o diálogo que vincula uma à outra põe em destaque as marcas linguísticas que as aproximam. Procuro mostrar de que forma uma canção romântica teve alguns de seus elementos apropriados e ressignificados, ao ser submetida, noutra canção, a um processo de politização inesperada. Em seguida, analiso como, na regravação de uma mesma composição, esta foi atingida por golpes de irrisão que retiraram o chão sobre o qual ela se assentava, num caso explícito de polifonia e reapropriação de seu sentido. Em meio a isso, se verificará, no dizer de Bakhtin, que “a segunda voz, uma vez instalada no discurso do outro, entra em hostilidade com o seu agente primitivo e o obriga a servir a fins diametralmente opostos”.
“COMO DOIS E DOIS SÃO CINCO”: A DITADURA MILITAR EM QUESTÃO
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DOI: 10.37572/EdArt_30072416111
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Palavras-chave: dialogismo; música popular; apropriação de sentidos, ditadura militar.
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Keywords: dialogism; popular music; appropriation of meanings; military dictatorship.
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Abstract:
In this work I propose to approach a case study of dialogism applied to the popular music, by taking as starting point Mikhail Bakhtin’s contributions. At first, I examine two songs in which the dialogue linking them highlights the linguistic marks that make them to converge. I search to show how some elements of a romantic song have been appropriated and re-signified when it was subjected, in one other song, to an unexpected process of politicization. Then, I analyze how, in a re-recording of the same song, this latter was affected by mockeries which made the ground it stood on unstable, in a clear case of polyphony and re-appropriation of the song’s meaning. In this process, it will be verified, according to Bakhtin, that, “once settled in the other’s discourse, a second voice becomes hostile to its primitive agent and obligates it to serve opposed purposes”.
- Adalberto Paranhos